A constante modernização tecnológica
permitiu a conexão e a informação a população mundial de maneira rápida e
eficiente, pelo meio da televisão ou redes sociais, que em poucos instantes permitiu
um alcance para inúmeros lugares. Historicamente, a menos de 50 anos atrás um
dos meios eficientes para o acesso a informação e o conhecimento estava
presente apenas em livros e jornais, realidade vivida por todas gerações antecessoras.
Ainda, contextualizando com um resgate bibliográfico, é possível identificar
que para maior parte da formação básica desses sujeitos foi baseada em um ensino
livresco (KRASILCHIK, 1987).
Assim é possível identificar que o Livro Didático possui
um papel fundamental no processo da constituição dos sujeitos historicamente, e
atualmente, ainda muito presente em sala de aula (CAIMI, 2014). O PETCiências é
um Programa de Educação Tutorial que visa a formação inicial de Licenciando em
Química, Física e Biologia com o intuito de formar professores pesquisadores
críticos e reflexivos e com isso, os Petianos desenvolvem pesquisas sobre educação
ambiental e formação de professores. Dentre estas pesquisas, encontra-se as
investigações em Livros Didáticos de ciências ou suas respectivas áreas de
formação. Entre os inúmeros aportes teóricos abordados pelos Livros Didáticos
(LD) investigados pelos licenciandos, abordaremos sobre a educação em saúde com
uma retomada histórica do assunto comparado ao trajeto da educação brasileira
com questões de saúde e o contexto atual com possíveis hipóteses.
O termo Educação em Saúde foi introduzido pela Lei de Diretrizes
e Bases da Educação (LDB) que define e regulariza a organização da educação
brasileira com base nos princípios presentes na Constituição, determinada a
partir da lei 5.692, de 11 de agosto de 1971, a implementação de Saúde nos
currículos para o ensino de 1º e 2º graus com o intuito de representar uma
ferramenta de estratégia de divulgação da ciência, através do LD, com apêndices
que explanam sobre saúde. Analisando alguns livros de décadas anteriores é
possível observar pontuações que hoje não são recorrentes em LD, por exemplo a abordagem
da Saúde Bucal. O objetivo para sistematizar sobre o assunto era “como escovar
os dentes?” ou “Causas da má higiene bucal.”, que a partir disso, é possível
identificar que o próprio livro não busca a reflexão e compreensão de tais
ações e possíveis causas/efeitos.
Posteriormente, os Parâmetros Curriculares Nacionais
(PCN) de 1999 apresentam um tópico chamado “pedagógico da saúde” abordando
conteúdos de higiene pessoal, alimentação, uso de drogas psicotrópicas e
aspectos envolvendo a saúde, solicitando que os conteúdos referentes ao corpo
humano e saúde devem ser ensinados no Ensino de Ciências, tanto quanto de
maneira transversal com as outras áreas de ensino (BRASIL, 1999). Atualmente,
com a nova Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é possível identificar que no
decorrer da base ocorre pontuações mencionando a área da saúde enquanto um bem
coletivo, utilizando a palavra compreender para tal construção (BRASIL, 2017).
Esse regaste do Ensino de Ciências em um amplo contexto
histórico curricular nos permite refletir sobre algumas das atitudes e ações
identificadas atualmente. Diariamente se observa reportagens sobre pessoas que
rompem o isolamento social, principalmente por junções com amigos e/ou por
frequentarem lugares constantemente sem necessidade. Mas como o LD, o currículo
e a mídia aspergem nas atitudes dos sujeitos?
Vejamos, historicamente o que o LD e mídia abordam são
pressupostos de “como fazer”, “o que fazer”, falhando na divulgação do significado
pelo qual deve-se tomar devidas providencias. Atualmente, a população mundial
vive um momento delicado com o enfrentamento a pandemia causada pela Covid-19,
que atualmente possui o enfoque midiático apresentando os dados de
contaminação, mortes e apelando para a conscientização do isolamento social. A
Organização Mundial da Saúde (OMS) implementa o uso de máscaras por toda
população ao sair de casa e solicita que as políticas públicas tomem devidas
providencias para os sujeitos que não cumprirem.
O que é possível perceber são os casos do uso inadequado
da máscara, a resistência por alguns em não utilizar a máscara e/ou aqueles
(maioria) que utilizam apenas por ser decreto e para acessar ao comércio, e o
constante negacionismo científico que podem ser causados pela falta de indução
a reflexão, sensibilização e compreensão acerca da própria saúde individual e
da saúde coletiva. A partir de tal atitudes podemos interpretar que nós
sujeitos, somos indivíduos heterônomos, ou seja, a sujeição do indivíduo á
vontade de terceiros ou de uma coletividade. (BRESOLIN, 2013)
Estas características podem estar aliadas a falta de
autonomia em buscar a autorreflexão, a sensibilização e a prática de
compreender determinadas ações, demonstrando atitudes de uma população reproducionista
e sem autonomia, banais em práticas de pensamento reflexivo e crítico. Essa
autonomia permitiria um funcionamento do isolamento social de maneira mais
flexível, onde os sujeitos compreenderiam os motivos da importância do
distanciamento social e iriam em busca de serviços essenciais apenas quando
ocorresse a necessidade.
Ou seja, o ambiente escolar deve proporcionar uma
constituição de sujeitos críticos e reflexivos, envolvendo todos aspectos
vigentes da sociedade atual, incluindo a saúde individual e pública. Marinho,
Silva e Caetano (2017, p. 8) citam que
Em
geral, o cuidado com a saúde de si implica a compreensão de um cenário complexo
e multifatorial. Neste caso, os dilemas podem se configurar como recurso
potente no qual a descentração em diferentes pontos de vista contribui para uma
concepção mais holística dos diferentes fatores que envolvem a saúde e o
cuidado de si.
Essas evidências permitem concluir que em um contexto
histórico a educação peca em abordagens com intuito de refletir, criticar e/ou
contextualizar, apenas pensando em descrever o ensinamento de “como fazer” e as
“causas”, notoriamente uma falta de perspectivas educativas que não visam buscar
o entendimento. Portanto, enquanto professores em formação do ensino de ciências
é significativo pensarmos estratégias e metodologias que norteiam o desenvolvimento
e a divulgação científica no contexto escolar.
Cleiton Edmundo Baumgratz
Bolsista PETCiências (SESu/MEN/FNDE) - Universidade Federal da Fronteira Sul
Campus Cerro Largo- RS
Referências
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular.
Brasília: MEC, 2017. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNC
C_20dez_site.pdf. Acesso em: 01 jul. 2020.
BRASIL. Secretaria de
Educação Fundamental. Parâmetros
Curriculares nacionais: terceiro e quarto ciclos: saúde. Brasília: MEC/SEF,
1999. p. 243-284. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/saude.pdf>.
Acesso em: 24 maio 2013
CAIMI, F. E. O livro
didático no contexto do PNLD: desafios comuns entre disciplinas escolares. In:
ANPEDSUL, 10., 2014, Florianópolis. Anais...
Florianópolis: UDESC, 2014. Disponível em:
<http://xanpedsul.faed.udesc.br/arq_pdf/646-0.pdf>. Acesso em: 01 jul.
2020
KRASILCHIK, M. O professor e o currículo das ciências.
São Paulo: EPU, 1987.
MARINHO, J. C. B.; DA
SILVA, J. A.; CAETANO, M. R. V. Dilemas morais de saúde como estratégia de
ensino para adolescentes. Ensenanza de
Las Ciencias, v. extra, p. 3939-3944, 2017.
BRESOLIN, K. Autonomia
versus heteronomia: O princípio da moral em Kant e Levinas. Conjectura: Filosofia e Educação (UCS),
v. 18, p, 166-183, 2013.
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